FBR/05 - NRP Sagres 2020: Na Rota dos Microplásticos
PDP 05 - NRP Sagres 2020: Na Rota dos Microplásticos
A propósito da celebração do V Centenário da Primeira Viagem de Circum-navegação inicialmente liderada por Fernão de Magalhães, o navio escola NRP Sagres iniciou uma viagem de circum-navegação a 5 de janeiro de 2020 (Figura 1). O projeto na “Na Rota dos Microplásticos”, que decorreu durante a viagem, pretendia caracterizar a distribuição de microplásticos na rota percorrida pelo navio. Devido ao surto de covid-19, a viagem foi interrompida, tendo o navio chegado à Cidade do Cabo, na África do Sul, e iniciado o regresso a Lisboa, onde chegou a 9 de maio.
Entre janeiro e maio de 2020 foram recolhidas 123 amostras para determinação de microplásticos no Oceano Atlântico Norte e Sul a bordo do NRP Sagres. Aproveitando a missão “Mar Aberto”, que decorreu no arquipélago de Cabo Verde no NRP Gago Coutinho entre janeiro e fevereiro de 2021, foram colhidas 44 amostras para determinação de microplásticos.
Figura 1: Área abrangida pelas campanhas do NRP Sagres e “Mar Aberto”.
Na Figura 2 apresentam-se o número de microplásticos encontrados nas amostras das campanhas NRP Sagres 2020 (a) e “Mar Aberto” (b). As zonas onde foram encontradas maiores concentrações de microplásticos na campanha do NRP Sagres foram no porto da Praia da ilha de Santiago, em Cabo Verde, no Rio de Janeiro, Brasil, e próximo da Cidade do Cabo, na África do Sul. Quanto à campanha “Mar Aberto”, foi encontrado um maior número de microplásticos numa estação a Sul da ilha de São Vicente e em duas estações a Norte da ilha de Santiago.
Os tipos de polímeros mais comuns encontrados nas amostras colhidas no âmbito da campanha a bordo do NRP Sagres foram maioritariamente poliamida e poliéster, enquanto que na campanha “Mar Aberto” foi o poliéster a amostra mais recolhida.
Na Figura 3 apresentam-se duas fotografias das amostras n.º 52 da campanha do NRP Sagres (a), e n.º 33 da campanha “Mar Aberto” (b), exemplificativas das partículas encontradas. Apresenta-se na Figura 4 o espetro obtido no equipamento de micro-espectrometria de infravermelho PerkinElmer Spotlight 200i por transformada de Fourier (µFTIR), correspondente a uma das partículas que foi isolada tendo sido identificada como poliuretano (PU).
Uma má, ou inexistência, gestão dos resíduos são as causas mais prováveis para as concentrações no porto da Praia e no Rio de Janeiro. Quanto à amostra próxima de África do Sul, recolhida de noite, observou-se um fenómeno de bioluminescência, o que pode justificar a maior acumulação de microplásticos naquela estação.
As redes de pesca e armadilhas de polvos abandonadas em determinados locais no arquipélago de Cabo Verde, podem fragmentar em partículas menores, sendo as responsáveis pelos resultados encontrados nestes locais, conforme já referido em estudos anteriores.
Estas campanhas permitiram analisar uma vasta área do Oceano Atlântico, originando resultados de grande importância, nunca antes feitas em navios Portugueses, e em zonas onde não há muita informação sobre a distribuição e concentrações de microplásticos.