Jornalistas de Portugal e da Noruega discutem alterações climáticas em Évora

Foto Grupo Hilde Nyman

Catorze jornalistas de Portugal e da Noruega participaram do curso Covering Climate Change: a Workshop for Journalists, de 10 a 14 de fevereiro, em Évora, com o apoio dos EEA Grants.

O curso foi idealizado pelo jornalista ambiental Ricardo Garcia e pelo cientista climático Miguel Bastos Araújo, como uma forma de promover uma maior compreensão das alterações climáticas pelos profissionais da comunicação social e dessa forma fomentar uma melhor cobertura do tema. O programa de relações bilaterais dos EEA Grants permitiu que dessa ideia inicial emergisse uma iniciativa internacional, envolvendo jornalistas dos dois países.

Uma parceria estratégica foi estabelecida com o Institutt for Journalistikk, uma organização norueguesa que opera como um ponto focal para a formação de jornalistas no país. Coube ao Institutt for Journalistikk a responsabilidade por divulgar a iniciativa entre os profissionais da comunicação social da Noruega, receber e organizar as candidaturas e selecionar os participantes finais do país.

O anúncio público do curso, em outubro de 2019, despertou um enorme interesse. No total, foram recebidas 48 candidaturas válidas, quase três vezes o número máximo de participantes para os quais o curso fora pensado. Houve 26 candidatos de Portugal e 22 da Noruega. No final, foram selecionados sete jornalistas de cada país, com base numa grelha de critérios que privilegiou a constituição de um grupo variado de profissionais – da televisão, imprensa, rádio e agências –, combinando diferentes níveis de experiência, tanto no jornalismo, quanto na cobertura das alterações climáticas.

Cursos de formação imersivos são uma excelente oportunidade para que jornalistas possam passar alguns dias exclusivamente a aprender e a dialogar com colegas, longe do frenético dia a dia das redações. E o workshop Covering Climate Change não foi exceção. Os participantes passaram cinco dias alojados na Casa Morgado Esporão, uma mansão do século XV no centro de Évora, restaurada pela Science Retreats para abrigar profissionais das artes, ciências e humanidades, numa atmosfera estimulante e inspiradora da qual os participantes do curso puderam partilhar. 

O curso baseou-se num programa desenvolvido especificamente para esse grupo de jornalistas. Na maior parte, consistiu de atividades práticas e dinâmicas de grupo, relacionadas com diferentes faces das alterações climáticas e do jornalismo: a ciência, a política e a diplomacia; os gases com efeito de estufa, o comércio de emissões e a transição energética; a biodiversidade, os oceanos e as florestas; as histórias ocultas, as técnicas jornalísticas e outros aspetos da profissão. Uma atenção especial foi dirigida às fontes de dados sobre alterações climáticas, através de demonstração e exercícios com variadas bases de dados. Seis oradores convidados – escolhidos entre proeminentes cientistas da área climática – complementaram as atividades práticas com aprofundadas palestras.

O programa também incluiu uma visita à Herdade dos Coelheiros, onde os participantes tiveram a oportunidade de observar e discutir in loco estratégias de adaptação às alterações climáticas na agricultura – neste caso, na produção de vinho e de nozes.

Um dos riscos de iniciativas de formação de jornalistas ao longo de vários dias é o de que os participantes gradualmente dispersem sua atenção, eventualmente voltando-a para os deveres que deixaram para trás nas redações. Não foi este o caso desta iniciativa. Os jornalistas estiveram presentes em todas as sessões formativas, revelando interesse e entusiasmo, numa semana dinâmica e produtiva, pontilhada com necessárias doses de descontração.

Ao final de cada dia de trabalho, depois das palestras e atividades, os jornalistas tiveram a oportunidade de entrar em contacto com representantes de empresas locais com práticas sustentáveis, que gentilmente ofereceram sessões de degustação de produtos regionais.

Foi gratificante receber dos participantes, após o final do curso, mensagens positivas de feedback, salientando a relevância e a profundidade dos temas tratados. Alguns ressaltaram a utilidade das fontes de informação e de dados discutidas durante o curso. Outros louvaram as palestras dos oradores convidados e outros ainda afirmaram que haviam voltado para a redação “cheios de ideias”. Esta avaliação coaduna-se com três dos principais objetivos da iniciativa: aprofundar o conhecimento dos jornalistas sobre as alterações climáticas, ajudá-los e explorar mais fontes de informação e encorajá-los a encontrar novos ângulos sobre o tema.

Logo a seguir ao curso, a crise da COVID-19 monopolizou a atenção dos media, fazendo com que todos os participantes fossem absorvidos no noticiário que se impunha. Ainda assim – e esta é uma das medidas do sucesso da iniciativa – alguns puderam aplicar os conhecimentos adquiridos em várias reportagens e artigos relacionando a questão climática e ambiental com a pandemia.

O apoio dos EEA Grants para esta iniciativa revelou-se fundamental para o seu êxito. O workshop constituiu uma oportunidade única para que jornalistas portugueses e noruegueses discutissem juntos as alterações climáticas, estabelecendo assim uma estimulante ponte para a troca de conhecimentos e experiência.

A parceria com o Institutt for Journalistikk, por sua vez, abriu uma porta para uma relação mais perene – e o instituto norueguês já manifestou o seu interesse em novos projetos em conjunto.